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OPINIÃO: O drama dos meninos na caverna e umas lições para refletirmos

A aventura de jovens praticantes de futebol com seu monitor numa caverna de antigo reino asiático transforma-se em quase tragédia, dá lições e causa impacto na opinião pública mundial, interligada e temperada de emoções pelas comunicações instantâneas e redes sociais. É período de monções, fenômeno significativo no sudeste asiático e que, ao mesmo tempo, deixa mais de centena de mortos com enchente no mais desenvolvido país da região.

A Tailândia é monarquia que se constitucionalizou no século XX, hoje governada por militares que golpearam - aparentemente com a concordância do rei - as instituições parlamentares em meio a grave crise.

Doze meninos e seu treinador isolados numa caverna inundada pelas chuvas, sem alimentos ou possibilidades de sair pelo próprio esforço, necessitando de complexo socorro é prato cheio para a nossa sociedade do espetáculo. Em condições normais, o aspecto midiático prevaleceria sobre o evento em si e o atendimento à ocorrência. Mas, se trata de um país oriental, com outra cultura e um regime fechado. O circo não funcionou.

O acesso às informações foi limitado e disciplinado pelos militares governantes. Jornalista que usou drone à busca de imagens foi preso. Decisões mais arriscadas (por exemplo, precipitar a operação de retirada em razão da possibilidade de mais tempestades) foram adotadas com firmeza sem concessão a discussões e devaneios mundo afora. Tiveram, surpreendentemente, a grandeza humilde de aceitar colaboração de estrangeiros, acentuada depois que socorrista local, talvez não bem preparado para o tamanho do desafio, perdeu a vida. O episódio deixa muitas lições. Em situações destas é preciso comando unificado, coordenação, assumir ações com riscos. Menos espetáculo, mais resolução.

Responsabilidades apuram-se depois, primeiro se socorre. Nosso jeito ocidental é o contrário. O presidente da Fifa já queria os meninos na final da Copa do Mundo; resposta negativa, óbvio que necessitam de cuidados físicos e psicológicos, retorno paulatino à vida normal. Poderia ter dado errado. Deu certo. Não sabemos bem, a extensão desse certo, as informações são somente de fontes oficiais.

Aparentemente, os 13 da caverna estão bem ou com expectativa de restabelecimento pleno de sua saúde. Aquela caverna também oportunizou que a humanidade despertasse qualidades solidárias, em época de tantos conflitos. Esta é outra grandiosa lição. Quem sabe tal solidariedade manifeste-se em face de muitos problemas humanos e sociais que parecem não nos chamar tanto a atenção. Alguns aproveitaram para fazer suposições de fragilidades se o fato fosse no Brasil. Omitiram apenas que, entre nós, mil palpiteiros criticariam a decisão de como socorrer e priorizariam o debate se havia culpado.

Ali perto, o Japão, com sua perda de mais de centena de vidas numa inundação, também nos ensina que nem toda a competência e tecnologia conseguem, por vezes, evitar desastres naturais, e estes não precisam de culpados.

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